EQUIPE SASQUATCH - EXTREMA ITAMBÉ 2004

14/09/2012 15:02

Relato da prova Itambé – Caminhos de Balsa Nova 2004.

Equipe Sasquatch.

 

            A Etapa Itambé – Caminhos de Balsa Nova (ultima etapa do campeonato paranaense de Corridas de Aventura de 2004 – Circuito Extremaventura), apresentou um percurso duro dentro dos sessenta e poucos quilômetros de prova. Duro o suficiente para fazer cada um da nossa equipe passar por momentos difíceis, por sorte, em diferentes momentos da prova. Isso nunca havia acontecido.

            Certos do nosso potencial físico e buscando superar o fiasco da prova de Paranaguá (2a etapa do paranaense daquele ano), fomos decididos a vencer a prova, até como forma de colocar em cheque a formação do nosso grupo e continuidade de participação em provas de aventura.

            Mesmo tendo a nosso favor a predominância da prova na modalidade de bike, esse não foi um fator determinante para a vitória, mas sim a constância e a boa navegação, em especial no último trekking. Da largada até o PC2, lideramos a prova. Era um trecho de bike com várias subidas e conseguimos nos destacar. O PC3 ficou um pouco confuso no mapa e quando percebemos, já estávamos na metade da subida da serra onde só dois da equipe deveriam estar (as equipes se separavam no PC3). Descemos novamente e várias equipes já estavam ali, também com dificuldades em algumas bifurcações, das quais resolvi entrar sozinho numa delas, e acertei. O PC3 estava lá “no fundo” e voltei o mais rápido possível pra chamar a equipe. A estratégia nesse ponto era que eu e o Daniel fizéssemos o trekking (pois havíamos treinado corridas longas juntos), e a Sheila e o Thiago levariam as bikes subindo a serra até São Luís do Purunã. Mudamos na hora da decisão. A Sheila e o Daniel foram para o trekking em direção ao PC4(e por sinal acompanharam muito bem a dupla masculina da equipe Marumbi) e eu e o Thiago subimos a serra direto para o PC5. Fizemos um tempo incrível nesse trecho, pois as primeiras equipes saíram praticamente juntas e nós dois acompanhamos as duplas masculinas da categoria Aventura. Só meia hora depois as duplas das equipes mistas da categoria Expedição começaram a chegar. Nossa dupla do trekking chega em terceiro, coladinha na dupla do Maumbi e saímos em direção ao PC6, seguindo de perto a Marumbi.

Do PC6 para o 7 a Marumbi se destacou no corte de um campo e chegou antes para pegar as bikes, mas tiveram que aguardar por problemas no transporte das mesmas. Saímos antes para os ducks e para fazer a Ação Ambiental do plantio de mudas, e no fim do duck (PC9) a Marumbi está conosco novamente. Do 9 para o 10 foi um trecho curto (onde o maior desafio foram os pernilongos).

Na saída do 10 (bike) a corrida “zerou” novamente. Estávamos em quatro equipes mistas (Sasquatch, Marumbi, Selva e Body Import). Apesar de termos andado um bom trecho na frente, a disputa com a Marumbi foi acirrada entre o 11 e o 13, onde eles chegaram 5 minutos à frente. Daqui pra frente era só trekking (até o PC18, a chegada na fábrica Itambé). No PC14 assumimos a liderança e a navegação fluiu. Apertamos o passo pra tirar a vantagem de tempo das equipes que tiveram que esperar por suas bikes nos pc`s anteriores, e deu certo. Cruzamos a linha de chegada em primeiro, 11 minutos à frente da Selva, e assim terminamos o campeonato em 3o lugar.

Anderson Antoniacomi.

 

            A parte bela da história foi contada. Agora vem a realidade da prova.

 

            Nosso primeiro erro de navegação nessa prova pode ser delegado a mim, que não era o navegador oficial, mas adquiri como hábito de olhar o mapa e memorizar ao menos o trecho inicial da prova (pc1 e 2) para abrir vantagem das demais equipes. Liderávamos na bike e marquei mentalmente que deveríamos entrar na segunda à direita para chegar ao pc2. Até falei para a equipe mas sem convicção, e tocamos direto, erradamente, subindo metade de uma serra. Consegui eu mesmo corrigir o erro a tempo mas nos custou um certo desgaste.

            Outro ponto fundamental é o treinamento homogêneo da equipe. Desde o início da formação da equipe sofríamos com um nível de condicionamento físico diferente entre os membros.  Um dos integrantes sempre precisou de muito incentivo para sair para os treinos e sempre chegava na corrida abaixo do que podia alcançar e acabava sobrecarregando os demais. Tivemos um pouco de atraso na divisão da equipe, em função do menor preparo de corrida desse integrante. Eu e o outro integrante, pedalando uma bike e empurrando outra, fomos super bem, mas o tempo que tiramos acabou sendo perdido em parte por causa do trekking demorado da outra metade da equipe.

            Cometi um erro nessa parte de levar duas bikes: estava com o colete salva-vidas vestido e fechado, desde o primeiro trecho de bike, o que me rendeu uma desidratação já no início da prova. Me fez correr com ânsia de vômito e dor de cabeça praticamente a prova toda.

            No trecho de trekking final, precisei ser empurrado, a pé, nas subidas porque já não podia acompanha-los andando, em função da desidratação e do esforço feito para puxar na bike o integrante menos preparado. Lembro-me de que nesse trekking, ao chegarmos no alto da serra, eu sentia que até a umidade da neblina estava me hidratando. Foi bastante recuperativo. Até consegui correr por mais alguns trechos planos depois disso.

            Acredito que vencemos porque a maioria dos integrantes estavam bem fisicamente e entrosados, o que nos permitiu uma boa navegação. Houveram provas anteriores, e posteriores, onde o entrosamento estava baixo e os erros de navegação foram constantes.

            Vencer dá força, nos remete a traçar novos planos, visualizando um futuro promissor, repleto de crescimento. Mas sentimos a dura realidade de sermos bons, mas não sermos conhecidos, não termos bons relacionamentos que nos levassem a firmar apoios/patrocínios à altura do que esperávamos. Éramos mais reservados, e de um grupo de relacionamento mais limitado financeiramente, e nossa arrancada para uma suposta “profissionalização” patinou muito e acabou não acontecendo.

            Não tivemos fôlego financeiro superior para correr provas mais importantes, fora de nosso estado, o que nos fez ficar ao nível local e de forma cada vez mais displicente e desestruturada.

 

REFLEXÕES.

            Desde nossa primeira corrida e também primeira vitória, sempre sonhamos com um desempenho ideal, de largar a corrida e liderar do início ao fim. Chegamos próximos a isso em alguns momentos mas nos faltou conjunto e navegação concisa para concretizar esse sonho.

            Vencer ali na briga da corrida, disputando a liderança e acabar assumindo a ponta no final também é muito bom. Vencer sempre é muito bom e acredito que muitas vezes esse sonho de desempenho ideal, gerava uma grande ansiedade que nos fazia errar, e muitas vezes desistimos de corridas ou chegamos muito mal pelo excesso de erros.

            Atualmente percebo com mais clareza que primeiro é preciso “estar na corrida”, brigando com as demais por alguma colocação seja ela qual for, e à medida que a confiança puder ser aplicada à força física, aí sim buscar colocações melhores. Com o tempo essa confiança chega logo no início da prova ou mesmo antes dela, e aí sim esse desempenho ideal se torna uma consequência de todo o trabalho.

            Em entrevista a uma rede de tv, o jogador de basquete norte americano Le Brow James, falando sobre o que ele achava da participação do seu país (que possui a maior e melhor liga de basquete do mundo) nos jogos olímpicos de Londres 2012, ele comenta que suas palavras para seus parceiros de time no vestiário são mais ou menos assim: “não importa quem você é ou quanto você ganha para jogar, mas quando entrar na quadra jogue basquete, esqueça de tudo e faça o que tem que fazer”. Ou seja, esqueça seus títulos anteriores, esqueça a estrela que você é e jogue pra valer, esteja no jogo.

            Não é a parte de ser estrela que faz identidade conosco. Longe disso, pois existem outros que já participaram e venceram muito mais provas do que a extinta Sasquatch. O que faz identidade é a parte que fala em entrar no jogo e jogar. Antes de vencer uma prova de aventura é preciso correr a prova e dar o melhor de si nela, e aí pode ser que o resultado venha.